MEMÓRIAS DE VIÇOSA DO CEARÁ
Inspire-se com a história, o turismo cultural, as experiências, patrimônios e memórias de Viçosa do Ceará e da região da Ibiapaba
[…] Acorda, essa cidade encantada como se fosse carnaval.
Viçosa cidade tão linda no meu samba o seu céu é o meu quintal.
O meu samba com seus pés de mestre-sala vai de
calçada em calçada pelos sobrados e casarões que
sonham ao romper do dia com belas melodias de bandolins e violões […]
Música ‘Samba pra Viçosa’ de Allan Mendonça, Marcelo Leite e Carlinhos Crisóstomo.
Como bem descreve o poeta, assim é Viçosa! Uma cidade que emana sons e melodias de tempos distintos impressos em cada fachada, em cada patrimônio arquitetônico e paisagístico que dão a dimensão material das memórias e afetos dos seus moradores e visitantes. Rica na sua ancestralidade, Viçosa do Ceará e a região da Ibiapaba também valorizam seus Tesouros Vivos da Cultura, nossos Mestres e Mestras que cuidam e partilham seus saberes da cultura tradicional ou popular, os quais vamos conhecer aqui também!
Em 2019, o Festival Mi realizou o roteiro “Memórias de Viçosa do Ceará”, propondo uma uma interação entre o patrimônio e seus diversos significados, possibilitando uma experiência de sentidos através das inter-relações e trocas que ocorrem para além dos lugares, mas das muitas histórias e memórias vividas ao longo do tempo num mesmo espaço, não estabelecendo limite entre passado, presente e futuro.
Visitas guiadas foram realizadas acompanhadas de Gilton Barreto, pesquisador e historiador do assunto, que hoje está como Secretário de Turismo, Cultura e Meio Ambiente em Viçosa do Ceará. Agora, em versão virtual, convidamos vocês a conferir alguns desses patrimônios culturais dessa “cidade encantada” da Ibiapaba.
PARA ADENTRAR NA DELICADEZA DE VIÇOSA DO CEARÁ,
VAMOS TE APRESENTAR ÀS SERENATAS DA CIDADE
Uma tradição especial da cidade é a realização de serenatas com os músicos e apreciadores que moram ali. Zé Músico, famoso seresteiro e violonista, é a principal referência, que inspira até hoje esse costume que segue vivo e que o Festival Mi faz questão de valorizar.
Gostou da palhinha ali no primeiro vídeo? Pois confere aqui a música para sonorizar seu passeio aqui pelo nosso site!
CONHEÇA OS TESOUROS
VIVOS DA IBIAPABA
O Estado do Ceará, localizado no Nordeste do Brasil, é referência pela diversidade e pluralidade da cultura tradicional ou popular, com suas expressões, celebrações, saberes e fazeres por meio de difusão e transmissão entre gerações das culturas indígenas e afro-brasileiras, reisados, capoeiras, lapinhas, pastoris, artesanatos, mateiros, xilogravuras, benditos, dramistas, danças de coco, maneiro-pau, cordéis, mamulengos, congadas, penitentes, festejos juninos, medicina popular, aboiadores, repentistas, violeiros, chorinhos, teatro de bonecos e tantas outras manifestações.
O
CEARÁ
CONTA
COM
- Já titulamos 150 tesouros vivos, em 20 anos de política.
- 87 Tesouros Vivos em atividade, no âmbito da administração pública estadual, Lei dos Tesouros Vivos da Cultura, sob o nº 13.842, de 27 de novembro de 2006.
sendo:
- 91 Mestres e mestras da Cultura Tradicional Popular
- 15 Grupos de Tradição
- 04 Coletividades
TESOUROS VIVOS DA SERRA DA IBIAPABA
Pessoas naturais (mestres da cultura), os grupos e as coletividades dotados de conhecimentos e técnicas de atividades culturais, cuja produção, preservação e transmissão, sejam representativas de elevado grau de maestria, constituindo importante referencial da Cultura Cearense.
Os mestre(a)s da cultura tradicional ou popular são pessoas que detém um conhecimento ancestral, recebido do meio familiar e/ou de prática de convivência cultural, que manteve/mantém o saber/fazer específico; além de grande capacidade de transmitir estes conhecimentos e as técnicas necessárias para a produção, difusão e preservação de uma expressão tradicional popular.
As coletividades e os grupos são reconhecidos pela manifestação cultural que representam, pela comunidade onde vivem, como também por outros setores culturais, constituindo assim importante referencial da cultura tradicional popular no Ceará.
VAMOS CONHECER OS MESTRES E MESTRAS DA IBIAPABA?

Maria Alves de Paiva (Mestra Dona Branca)
Tradição: artesanato em cerâmica
Ano da titulação: 2005
Cidade: Ipu (CE)
Nasceu em 17 de julho de 1941, na comunidade distrito de Bom Jesus, município de Ipu-CE, aprendeu o ofício com a avó, Raimunda Alves de Souza. Tinha 10 anos de idade. Nesse tipo de artesanato é o tempo de atividade que se encarrega de preparar o “artista”. Não tem escola para ensinar. Aprende- se em casa, observando, pacientemente, imitando os mais velhos, dando vazão à vontade de fazer juntando à necessidade de ter alguma renda, percebendo que o objeto produzido tem algum valor de troca.
Maria Alves ganhou o apelido de “Branca” ainda criancinha, por ter a pele muito clara, cabelos dourados e os olhos azuis. Na comunidade onde mora, no Ipu, ninguém sabe quem é Maria Alves de Paiva, mas todos apontam onde fica a casa de Dona Branca.
A Mestra Branca carrega a experiência da louceira produzindo um artigo de qualidade e perfeição e numa rapidez impressionante. Do barro retira o que chamam de artesanato utilitário: filtros, jarras, quartinhas, panelas, alguidares, pratos, tachos, cuscuzeiras, fogareiros, utensílios da cozinha. Foi diplomada Mestra da Cultura, pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Cultura, no ano de 2005.

Francisca Rodrigues Ramos do Nascimento (Mestra Dona Francisca)
Tradição: artesanato em cerâmica
Ano da titulação: 2005
Cidade: Viçosa do Ceará (CE)
Nasceu na comunidade do Tope, em Viçosa do Ceará, no dia 03 de janeiro de 1939. É descendente de índios e herdou a arte de moldar o barro de seus pais e avós. Eles fabricavam utensílios de uso doméstico. Mas foi uma tia de nome Adelaide que incentivou no trabalho com o barro. Aos 12 anos de idade Francisca já modelava o barro fazendo panelas, jarras, potes e quartinhas para, com outras pessoas da família, vender nas feiras da região da Ibiapaba. Na sua época de criança estudar era difícil e a sobrevivência estava na agricultura onde a família trabalhava. Entendida do seu ofício de moldar o barro, com tempo foi aprimorando as louças louças e utensílios domésticos, figuras decorativas para jardins, presépios,estátuas e bustos de figuras populares que são expostos nas feiras de artesanato do Ceará e de outros estados. Francisca Ramos do Nascimento, Dona Francisca, foi diplomada Mestra da Cultura, pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Cultura, no ano de 2005.

Ana Maria da Conceição ( Mestra Ana Maria)
Tradição: drama
Ano da titulação: 2008
Cidade: Tianguá (CE)
Nasceu no dia 27 de julho de 1956, em Tianguá-CE e reside no Sítio Tucuns, Distrito de Pindoguaba, Tianguá, região da Ibiapaba. Ana Maria conheceu os dramas na infância, aos 10 anos de idade. A comunidade de Tucuns, no município de Tianguá, ficou famosa por ter em seu acervo de folguedos a encenação dos dramas. O drama é uma manifestação popular que mescla músicas e expressões corporais, representando práticas dramáticas das vivências rurais. A Mestra Ana Maria tem outras formas de expressar saberes de uma comunidade, tais como parteira, catequista voluntária da paróquia de Sant’Ana e rezadeira, sabendo manipular remédios caseiros à base de ervas. No ano de 2008 foi diplomada Mestra da Cultura, pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Cultura.

Expedita Moreira dos Santos (Mestra Dona Expedita)
Tradição: dança de São Gonçalo
Ano da titulação: 2010
Cidade: Tianguá (CE)
Nasceu no dia 9 de outubro de 1939 e reside no Sítio Croatá, município de Tianguá. A mãe era parteira tradicional, fazia remédios caseiros e rezava “nas pessoas”. Expedita ajudava nos serviços de parto que presenciava e herdou também outros afazeres. A dança de São Gonçalo é uma manifestação votiva ao frade franciscano São Gonçalo do Amarante, de Portugal, trazida ao Brasil pelos jesuítas na época da colonização, assimilada pelos ameríndios e transmitida através das gerações. O surgimento da dança de São Gonçalo se deu depois da morte da sua mãe, quando estava com 30 anos de idade. Lembra Dona Expedita que a dança era feita no terreiro de sua casa, sob responsabilidade de sua mãe, que mantinha um grupo de Louvação a São Gonçalo. Expedita tinha 10 anos de idade. A tradição religiosa vem sendo mantida até os dias de hoje. Ela adverte: “Não há mudança que mexa no meu terreiro. Ele é de Gonçalo”. Na localidade de Croatá a dança vem sendo realizada por 24 mulheres e apenas um homem (que representa São Gonçalo). Uma senhora marca as movimentações e conduz o santo durante a procissão, tira cantos e governa o grupo do começo ao fim. É a “mariposa”. O grupo de dança governado por Dona Expedita foi reconhecido como iniciativa exemplar no Brasil, destacado com o Prêmio Mestre Humberto Maracanã, de Cultura Popular, concedido pelo Ministério da Cultura no ano de 2008. No ano de 2010 foi diplomada Mestra da Cultura, pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Cultura.